Andava. Braço direito igual a um pêndulo e o outro elevado na
altura da boca. Fumava compulsivamente. Caminhava, pele feita de titânio:
entortaria a ponta de qualquer punhal. As lâminas escondidas entre os dedos
gritavam RES PEI TO. Exigia. Dona de um corpo expurgado por homens equinos que
lhe rasgaram as têmporas, gastaram sua genitália, avassalaram sua alma.
Respeito.
Naquele domingo, o que foram as asas de galinha recheadas com
alho, coentro e cebolinha? Especialidade de Neiva, a mais velha. Não conheço o
sabor dominical. Nunca soube. Eram os dias mais rentáveis da semana, dia de
caminhoneiro viajante descansar por mais tempo. Dia de servir carne de galinha
criada no quintal. Dia de gozar a Deus sobre os filhos esposas e famílias. Ao homem,
sentinela de prazeres egóicos. Nada mais. Inácia, que hoje o tem como filho,
aconselha: coma, a costela vai esfriar. Não tenha medo, não creio que Eva
nasceu de Adão. Amor não escolhe lado, filho. Seja completo, feliz.
No pano de prato surrado marcando o calendário de um ano passado, Edivaldo
limpou do rosto o rimel que desenhava sua pele.
Cronica do cotidiano, dos subúrbios e vielas, dos recantos mais esquecidos, onde sobrevive uma gente sofrida, marcada pelas adversidades, fedida pelo meio. Que tem suas próprias, um jeito todo peculiar de ser e de viver que se entendem muito bem nesse microcosmos, nessa confraria de marginalizados
ResponderExcluirhttp://apoesiaestamorrendo.blogspot.com.br/
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gentes que sobrevivem às gentes, Murilo!
ResponderExcluirAdorei seus textos. Bons e fazem a gente pensar.
ResponderExcluirTão complexo que não sei por onde comecei a entender. Encantador!
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